O cultivo do trigo no Brasil é uma das atividades mais importantes para o agronegócio brasileiro. No entanto, para o sucesso da atividade, alguns obstáculos devem ser superados, como a ocorrência de plantas daninhas.

Comumente chamadas apenas por “daninhas” pelos produtores e técnicos, essas plantas são um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores de trigo no Brasil. 

A presença dessas espécies invasoras nas lavouras impacta diretamente a produtividade, pois competem com a cultura por recursos essenciais, como água, luz, espaço e nutrientes. O manejo eficiente das plantas daninhas é crucial para alcançar o sucesso da produção e a qualidade dos grãos. 

Nesse texto, será discutido sobre as principais espécies de plantas daninhas que afetam o cultivo de trigo, os problemas que elas causam e as principais estratégias adotadas para o controle.

O cenário das plantas daninhas no trigo no Brasil

As maiores regiões produtoras de trigo no Brasil se concentram no Sul do país, em Estados como o Rio Grande do Sul e Paraná. No entanto, a expansão da cultura vem acompanhada de um problema crescente: a presença de plantas daninhas. 

Essas invasoras são responsáveis por prejuízos consideráveis na produtividade, pois interferem no desenvolvimento das plantas de trigo, levando a uma redução significativa de rendimento. A presença de plantas daninhas no trigo pode diminuir seriamente a produção em casos mais graves, além de aumentar os custos com manejo. 

Elas competem de forma agressiva pelos recursos disponíveis, atrasando o crescimento da cultura e, em muitos casos, dificultando a colheita. Além disso, podem servir de hospedeiras para pragas e doenças, agravando ainda mais os problemas nas lavouras.

Principais espécies de plantas daninhas no trigo

No Brasil, várias espécies de plantas daninhas se destacam pela sua resistência e pela capacidade de adaptação às condições climáticas das regiões produtoras de trigo. 

Entre as mais problemáticas, podemos citar:

  • Azevém (Lolium multiflorum)

O azevém é uma das principais plantas daninhas em áreas de cultivo de trigo. Adaptado às condições de inverno, essa gramínea anual cresce rapidamente, competindo diretamente com o trigo por espaço, água e nutrientes. 

O azevém se desenvolve formando touceiras densas que sufocam as plantas de trigo. Em pleno desenvolvimento pode atingir mais de um metro de altura e suas sementes são facilmente dispersas pelo vento e pela água, facilitando sua proliferação.

Além disso, o azevém apresenta resistência a alguns herbicidas, tornando o seu controle bastante desafiador para os produtores.

  • Capim-amargoso (Digitaria insularis)

Originário das Américas, o capim-amargoso tem se tornado uma das plantas daninhas mais difíceis de controlar. Além de ser problemática na cultura do trigo, também pode infestar outras lavouras durante as safras de verão, como milho e soja.

Essa planta perene se adapta muito bem a diferentes condições climáticas, apresenta alta capacidade de dispersão e um banco de sementes extremamente resistente, o que aumenta sua incidência nas lavouras de trigo.

O capim-amargoso apresenta raízes profundas e rizomas, que permitem sua regeneração rápida após a capina ou mesmo após o uso de herbicidas.

  • Aveia (Avena sativa e Avena strigosa)

Embora a aveia seja uma cultura de cobertura importante em muitos sistemas de rotação, algumas cultivares podem atuar como plantas daninhas agressivas, ao formarem densa vegetação que suprime o desenvolvimento do trigo

Essas espécies reduzem a produtividade do trigo por competirem, ao mesmo tempo, por luz, nutrientes e espaço. Suas sementes apresentam dormência, o que permite que germinem em diferentes períodos do ano, dificultando o controle.

Quando deixadas sem controle no campo, a aveia pode se tornar uma infestação difícil de ser contida, especialmente devido à sua alta capacidade de germinação.

  • Buva (Conyza spp.)

A buva é uma planta daninha altamente resistente, que tem se tornado uma das principais preocupações dos produtores de trigo no Brasil. Assim como o capim-amargoso, a buva também pode ser um problema para outras culturas de verão.

Essa planta, originária da América do Norte, se adaptou bem às condições brasileiras e se espalha rapidamente por meio de suas sementes leves, transportadas pelo vento.

A buva pode atingir até um metro e meio de altura em condições favoráveis e tem uma capacidade impressionante de produzir grandes quantidades de sementes. Seu ciclo é anual, e sua presença é especialmente preocupante devido à resistência que desenvolveu a alguns princípios ativos de herbicidas.

  • Nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum e Raphanus sativus)

As espécies de nabo forrageiro são amplamente utilizadas como cobertura de solo em sistemas de rotação de culturas. No entanto, quando não controladas adequadamente, podem se comportar como plantas daninhas agressivas, afetando diretamente a produtividade do trigo.

O nabo forrageiro cresce rapidamente e forma uma vegetação densa, competindo com o trigo por recursos essenciais. Suas sementes possuem dormência, o que permite a sua germinação em diferentes estações do ano, tornando o controle mais difícil.

Além das características individuais de cada espécie, conhecer a importância do banco de sementes no solo e das condições climáticas no desenvolvimento das sementes e plantas é essencial para manejar essas daninhas de forma eficiente na lavoura.

Banco de sementes no solo

O banco de sementes no solo é um fator crucial para a reincidência de plantas daninhas em lavouras de trigo. Muitas espécies de plantas daninhas produzem grandes quantidades de sementes, que permanecem viáveis no solo por longos períodos, aguardando condições favoráveis para germinar.

Essas sementes podem sobreviver por anos no solo, mesmo em condições adversas, e germinar em diferentes estações, tornando o manejo das plantas daninhas um desafio contínuo. Esse fenômeno reforça a necessidade de estratégias de controle que visem a redução do banco de sementes no solo.

As principais características do banco de sementes no solo são:

  • persistência: algumas sementes podem permanecer viáveis no solo por até 10 anos, dependendo das condições ambientais e da espécie.
  • dormência: muitas plantas daninhas possuem sementes dormentes, que germinam apenas quando encontram as condições ideais de luz, umidade e temperatura.
  • dispersão: as sementes de plantas daninhas, como a buva, são facilmente dispersas pelo vento, água ou máquinas agrícolas, aumentando a área de infestação.

Condições climáticas favoráveis para a ocorrência de plantas daninhas

As condições climáticas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das plantas daninhas nas lavouras de trigo. Fatores como temperatura, umidade e luminosidade influenciam diretamente a germinação e o crescimento dessas plantas.

Nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, onde o cultivo de trigo é mais comum, as plantas daninhas se beneficiam de climas com alta umidade e temperaturas amenas, favorecendo sua proliferação. 

Chuvas frequentes também são um fator decisivo para a germinação de muitas espécies de plantas daninhas, como o azevém e o capim-amargoso. Além das precipitações recorrentes e das temperaturas moderadas, a luminosidade também interfere diretamente no desenvolvimento das daninhas. A exposição direta à luz solar estimula a germinação de muitas espécies.

Os produtores precisam estar atentos às condições climáticas para realizar o manejo no momento correto, evitando que as plantas daninhas se estabeleçam e prejudiquem a cultura de trigo. Além disso, outra importante ferramenta é o Manejo Integrado de Plantas Daninhas.

Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIDP) no cultivo de trigo

O MIPD é uma ferramenta estratégica que combina diferentes métodos de controle para reduzir a infestação de plantas daninhas de forma eficaz e sustentável. Essa prática visa minimizar o impacto negativo dessas plantas na produtividade agrícola, promovendo o uso equilibrado de recursos. 

O MIPD oferece uma série de benefícios aos produtores de trigo, desde o aumento da eficiência no controle das plantas daninhas até a diminuição dos custos de produção e a preservação do meio ambiente.

Entre os principais benefícios do MIPD estão:

  • maior eficiência no controle: ao combinar diferentes métodos, o MIPD torna o controle mais eficaz ao atuar em diferentes pontos do ciclo de vida das plantas daninhas.
  • redução da resistência a herbicidas: o uso de métodos variados diminui a pressão seletiva sobre as plantas daninhas, prevenindo a seleção de organismos com resistência.
  • sustentabilidade: com práticas agrícolas mais diversificadas, o MIPD contribui para a saúde do solo e a biodiversidade da área cultivada.
  • economia: o controle integrado pode reduzir os custos a longo prazo, tanto com a compra de insumos quanto com a redução das perdas de produtividade causadas pelas plantas daninhas.

A seguir, serão exploradas as principais etapas do Manejo Integrado de Plantas Daninhas, detalhando o monitoramento, a identificação e os diferentes tipos de controle: cultural, mecânico e químico.

Monitoramento e identificação das plantas daninhas

O monitoramento e a identificação das plantas daninhas são etapas fundamentais no MIPD. A detecção precoce e a identificação correta das espécies presentes na lavoura permitem que os produtores adotem medidas mais precisas e eficazes, evitando que as plantas daninhas se estabeleçam ou atinjam estádios mais avançados de desenvolvimento, quando o controle se torna mais difícil e caro.

  • Monitoramento contínuo: é essencial realizar vistorias regulares na lavoura, observando as áreas mais propensas ao surgimento de plantas daninhas. O monitoramento deve ser realizado em diferentes épocas do ano, para detectar tanto plantas adultas quanto sementes germinando.
  • Identificação correta das espécies: cada espécie de planta daninha tem características próprias e responde de maneira diferente aos métodos de controle. A identificação correta permite o uso direcionado de herbicidas ou práticas de manejo adequadas, evitando desperdício de recursos e minimizando os impactos negativos.

Controle cultural

O controle cultural é uma estratégia preventiva que busca criar condições desfavoráveis para o crescimento das plantas daninhas, utilizando práticas agrícolas que favorecem o desenvolvimento do trigo. Essa estratégia visa reduzir a pressão de infestação ao longo do ciclo de produção. 

  • Rotação de culturas: a alternância entre diferentes culturas na mesma área reduz a proliferação de plantas daninhas, uma vez que elas têm menor chance de completar seu ciclo de vida. Culturas que possuem diferentes épocas de plantio e colheita ajudam a interromper o ciclo das plantas daninhas.
  • Plantas de cobertura: o uso de culturas de cobertura, como leguminosas ou gramíneas, ajuda a suprimir as plantas daninhas ao competir por recursos como luz e nutrientes, além de melhorar a estrutura do solo e a retenção de umidade.
  • Densidade de plantio: a adoção de espaçamentos adequados entre as linhas de trigo pode aumentar a capacidade de competição da cultura com as plantas daninhas, diminuindo o espaço disponível para o desenvolvimento das invasoras.

Controle mecânico

O controle mecânico envolve o uso de ferramentas e máquinas para remover ou destruir fisicamente as plantas daninhas. 

Embora seja mais eficaz em fases iniciais de infestação, essa estratégia também é útil em áreas com infestação mais intensa ou em regiões onde o uso de herbicidas é limitado.

  • Capina manual: a remoção manual das plantas daninhas é uma prática eficiente em pequenas áreas ou em lavouras com baixa densidade de infestação. No entanto, essa abordagem é pouco viável em grandes áreas, devido ao alto custo de mão de obra.
  • Roçagem: o corte das plantas daninhas com máquinas específicas é eficaz para controlar espécies mais altas ou de crescimento rápido, mas deve ser feito antes da floração e da produção de sementes, para evitar que as invasoras se propaguem.

Controle químico

O controle químico é amplamente utilizado no manejo de plantas daninhas devido à sua eficiência, especialmente em grandes áreas de cultivo. No entanto, o uso de herbicidas deve sempre seguir as recomendações técnicas do fabricante quanto à dose recomendada, aos momentos e aos intervalos de aplicação. 

Dessa forma, o controle químico deve ser utilizado de forma planejada, em conjunto com outras estratégias do MIPD. A seguir, serão apresentadas algumas informações importantes que devem ser consideradas ao utilizar o controle químico.

  • Uso seletivo de herbicidas: os herbicidas seletivos são aplicados para eliminar as plantas daninhas sem afetar a cultura do trigo. A escolha do produto depende das espécies de plantas daninhas presentes e do estádio de desenvolvimento em que se encontram.
  • Rotação de herbicidas: a rotação de produtos com diferentes modos de ação ajuda a prevenir a resistência das plantas daninhas. O uso contínuo do mesmo herbicida ao longo dos anos pode selecionar plantas resistentes, tornando o controle químico ineficaz.
  • Aplicação de pré-emergentes: herbicidas aplicados antes da germinação das plantas daninhas são uma estratégia preventiva eficaz, pois inibem o desenvolvimento das invasoras logo após a semeadura do trigo. Esses produtos criam uma barreira no solo que impede a emergência das plantas daninhas.

Por que combinar diferentes métodos de controle?

O grande benefício do MIPD está na combinação de diferentes métodos de controle, o que torna o manejo mais sustentável e eficaz. Ao integrar práticas culturais, mecânicas e químicas, os produtores conseguem reduzir a pressão das plantas daninhas de forma duradoura, minimizar os riscos de resistência aos herbicidas e preservar a saúde do solo e do ambiente.

Assim, o MIPD não só melhora a produtividade do trigo, mas também promove a sustentabilidade da lavoura a longo prazo, oferecendo benefícios tanto econômicos quanto ambientais aos produtores.